À medida que a vida estrangulava a energia de Jaime, este tornara-se um velho rabugento e hipocondríaco. Jaime vivera as heróicas vidas agrestes do campo e da cidade. Cada passo dado fora capricho do seu ego que durante a juventude subira aos mais altos picaros do orgulho de braço dado com uma certa demência ou mais precisamente delírio. Ariana assistira vezes sem conta aos episódios que transformavam o pacato mas orgulhoso Beirão num homem doido varrido quando alguma contrariedade o impedia de brilhar no grupo restrito de amigos. Ela via agora o velho Jaime agarrado aos medos infinitos que povoavam os seus dias dolorosos e lentos. Teria ele medo de deixar a vida sabendo que deixaria de comandar os dias da sua Licas? Seria o terror do sofrimento que o poderia mandar para uma cama? Pouco falava com Ariana sobre os seus fantasmas.Via-se que o que o rodeava continuava a ter interesse, gostava de ouvir as notícias que o reconfortavam um pouco quando as imagens mostravam os dramas vividos por desconhecidos. Consolava-o saber que não estava para ali abandonado, a sofrer os males da velhice que sucedeu a uma juventude pouco cuidada.
Passara grande parte da vida a fazer noitadas aos fins de semana que terminavam invariavelmente na cama, longas horas de gemidos chamavam por Licas que acorria sempre pronta a aliviar os seus queixumes. Tabaco, umas cervejinhas ou vinho tinto, ou porventura algum mal entendido que terminava em refrega deixaram as suas marcas,