domingo, 15 de maio de 2016
O baú das Memórias
Somos um baú de memórias intemporais, etéreas, memórias que só ganham vida e corpo, quando alguém sem pré aviso nos bate à porta e entra de novo na nossa vida. Então com cautela devemos mexer no suave tule que protege momentos inesquecíveis e fugazes.
Durante alguns anos ficaste no meu baú joaninha. Esqueci a tua história, o teu sorriso, as tuas enormes lunetas. Passavas por mim e eu já não te via.
Continuavas a ser a bonequinha de óculos coloridas e gigantescos que quase disfarçavam a tua suave beleza... e eu passava sem te ver, no meio da desordem organizada do grupo de crianças que corriam e gritavam como temerários piratas que tomavam de assalto o confortável silêncio dos adultos.
Os efervescentes e tumultuosos dias iam passando rápidos, naquele espaço onde o saber viver com os outros era relegado para segundo plano. Pouco a pouco transformei-me num ser frio e indiferente que disfarçava os medos e as inseguranças sob uma capa de arrogante distância.
O medo de falhar cegava o meu coração. Entrava na tua escola, Joaninha, que também era o meu local de trabalho, como se entrasse na cratera de um vulcão. Nunca podia prever se no segundo seguinte alguém explodiria de raiva e de impaciência.
Naquele espaço não ensinavam o Amor, o Respeito e o civismo. Tu Joaninha, como tantos outros, eram despejados na Escolinha onde durante quatro anos continuámos a cruzar-nos. Quatro anos reduzidos à explosão de segundos, a um trocar de olhares que guardarei para sempre no meu baú pois foi um tempo fora do tempo.
Preencheu de sentido a nossa pequena história que viríamos a partilhar quando um dia depositaste a chave do teu coração, nas mãos do teu Amor que era também o Meu.
Ambas víamos nele o herói que sobressaía da banalidade. Tu como Mulher eu como mãe tínhamos orgulho em partilhar o espaço com um ser tão sereno, tão confiante, tão apaziguador.
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