Jaime partia agora sozinho para a serra. Rezava para que os lobos não lhe tresmalhassem o gado que na sua inocente credulidade pensava partilhar com o irmão Francisco que lhe propusera sociedade.Quase a troco de nada trabalhava com mais prazer, afinco e esperança no futuro que já podia desenhar a cores. Havia noites em que era acordado pelos chocalhos aflitos depois de ter sucumbido ao cansaço e ao frio. Saía da cabana, ou do abrigo, e escutava a noite, preparado para enfrentar as urzes e os silvados que lhe rasgavam o rosto quando mergulhava na serra sem luar. O rebanho, o seu pé-de-meia, fugia espavorido, à frente de algum lobo esfomeado.Tinham-lhe há muito roubado os medos da infância e partia tiritante e valente. A busca, por vezes, durava toda a noite. O castigo corporal já ele tinha como certo mas que diabo... não seria um predador que o faria desistir do seu negócio. Pela manhã encontrava o rebanho mais pobre de um cordeiro.Mas neste negócio familiar só um sairia a ganhar, a promessa de sociedade, entre os irmãos , nunca viria a ser cumprida.Este homenzinho, ainda à sombra da infância, foi aprendendo, sem o saber ainda, que os sonhos quando são tímidos raramente se tornam realidade.Um sopro de sonho pode transformar a vida numa busca frustrante de algo que nunca terá forma e nos deixa em permanente insatisfação.
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