Jaime desejava ultrapassar o impasse que era a sua existência...mas como?Sem sonhos bem definidos não conseguimos ir além da encruzilhada onde ficamos à espera que a mudança chegue nas asas do imprevisto.
Jaime tinha agora treze anos, franzinos e rebeldes. Era um adolescente habituado às agruras das noites passadas ao relento. Francisco, o seu irmão não era a pessoa mais indicada para o orientar e proteger dos primeiros desencontros com a vida. Ele era um homem rude, ignorante e egoísta. Estava seco o seu coração, como secas eram as terras que circundavam as Lajes.
Os sentimentos altruístas de Jaime ainda habitavam o seu coração o que o levou, certo dia, a apanhar do chão umas laranjas que, de tão maduras, não resistiram ao vento "Marçagão" que naquela Primavera soprara dos montes com mais força. Eram belas laranjas, rugosas que deixavam adivinhar, pelo peso o seu elevado teor de sumo. Este fruto doce, rico em vitamina C, fazia ,parte da alimentação que entre o Outono e a Primavera fornecia uma boa fonte de ácido cítrico especialmente aconselhado para a saúde cardiovascular. O acto de apanhar as laranjas, tinha um propósito: iriam ser oferecidas a um dos irmãos que estava de partida.Esta oferta iria ser o marco que transformaria a vida de Jaime.Nunca sabemos o momento certo que nos leva a subir o degrau, rumo a uma nova vida.
Ao descobrir a oferta feita a João, Francisco agrediu-o selvaticamente. A cabeça a latejar de medo e de raiva, o sangue a escorrer da fronte, ofegante, o miúdo procurou ajuda e ela chegou pelas mãos do Senhor Regedor José Correia.
Foi num comboio muito semelhante ao que o trouxe de volta à sua terra , três décadas depois, que ele partiu, tendo como único tesouro os cento e cinquenta escudos dados pelo Regedor. Ao saber da ocorrência, o seu pai, num derradeiro gesto de simpatia, fez-lhe companhia até Castelo Branco. Aí deixou-o sozinho, foi então que Jaime fechou para sempre a porta da sua vida de criança- pastor mas ao fechar essa porta sem pedir contas ao passado ele nunca viria a ser um homem em paz com o mundo porque os seus laços de afecto seriam sempre remendos de desamor e desconfiança.
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