quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O seio da Mulher

A mãe Ermelinda estava de novo de esperanças. Uma menina vinha a caminho e o nome já estava escolhido: Seria Benvinda a criança que acabaria, meses mais tarde, por debilitar ainda mais esta mulher com o futuro comprometido.
Jaime, ainda carente do regaço materno lançava um olhar ladino ao ver a mãe Ermelinda amamentar o novo rebento. Então  aproximava-se timidamente, na mão um pequeno escabelo tosco e carunchoso.


A mãe fazia-lhe um sinal de assentimento e era vê-lo, sentado em frente deste maravilhoso quadro vivo, tentando chegar ao seio redondo. Deliciado sorvia o néctar da fonte santa desta mulher!
 Jaime sorriu e estremeceu com ternura. Abriu os olhos, o tempo inexorável tinha-lhe roubado o bem precioso que era o amor incondicional de sua mãe. O Ameal ficaria para sempre vazio e sem sentido após a sua morte prematura. O pai mal esperou que findasse o período do nojo para partir com outra companheira, deixando os mais novos entregues ao irmão mais velho Francisco  que casara com a filha do patrão: Maria, moça pouco bafejada pela beleza mas valente como só o sabem ser as mulheres na alucinada e exaltada luta pela conservação e perpetuação da espécie. Maria e Francisco seriam a partir de então os infernais protectores da família já marcada pela desditosa perda de Ermelinda.
Jaime passou a viver numa verdadeira escravatura. Trabalhava sem direito a salário, sem direito a consolar o estômago ou ao conforto quente do lar.O luar passou a ser o seu tecto, a serra a sua morada permanente, o rebanho a sua nova família!
Em casa os armários eram fechados a sete chaves por isso Jaime pôs para trás os valores tão piamente transmitidos pelos pais e viu-se obrigado a assaltar as figueiras vizinhas para acalmar a dor que lhe apertava as entranhas. Os figos passaram a ser um inocente e necessário pecado.

1 comentário:

  1. A vida é cruel. O que parecia vir a ser uma existência de aconchego e segurança, depressa se torna um inferno de angústia e dor.

    Quantas vidas desesperadas se arrastam ignoradas e sofredoras... Com quanta dor e mágoa se constrói este mundo...

    Agora que já te reconheço, o meu maior abraço de amizade e admiração

    Parabéns, Guerreira dos Sonhos!

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