Jaime tinha orgulho quando pensava que apesar de não saber expressar-se na língua gaulesa, tinha conseguido tirar a carta com grande empenho. Depois do trabalho sentava-se em frente da sua companheira e, com a sua ajuda, persistia em decorar os sinais e as regras que ele nem sempre entendia. A carta de condução era indispensável para que ele pudesse todos os anos levar a sua família à terra que o abandonara. A carta era o seu passaporte para as viagens que ele viria a fazer. Ao longo do ano seriam viagens circulares, como trilhos que o acaso os impelia a fazer.
Ao fim de semana a família entrava no carro e seguia o traçado da estrada que nunca os levaria muito longe. Nem sequer era a volta saloia pois quando Jaime pegava no volante não sabia onde iria parar, nunca tinha um destino concreto e isso era uma aventura vivida em família com mais ou menos apreensão. Todos tinham que partilhar a alegria de Jaime que mostrava os seus dotes de condutor mas não de explorador. Por vezes atravessavam caminhos rurais e por pouco não mergulhavam nos cursos de água que atravessavam os campos. Eram sustos controlados como afirmava Jaime: -" Faz parte da aventura!". O sentido de orientação de Jaime foi sempre o seu principal problema. Na grande odisseia anual chegou a conduzir a família de volta para casa, pensando ir a caminho de Portugal. Claro que nunca chegava a perder-se, segundo ele também os marinheiros seguiam as estrelas, acariciando as ondas até chegar a um destino, um pouco mais ao lado ou um nadinha mais à frente das previsões. Não tinha importância que entrasse por Vilar Formoso ou por Badajoz na terra -mãe. O importante era chegar inteiro, o corpo amachucado e a alma a rejubilar depois da peregrinação de dois ou três dias.
Quase que dá para tocar o Jaime. Estender-lhe a mão e sentir-lhe os dedos nodosos, calejados pela dureza duma vida conquistada com suor e lágrimas.
ResponderEliminarO meu abraço de profunda admiração