José Maria regressou da mina triste e acabrunhado. Era o mais esbelto dos irmãos, herdara do pai os olhos de um azul transparente e da mãe a pele branca e a delicada saúde.Ao ver partir o Adrião não hesitou e com o pouco que tinha partiu rumo ao seu sonho de enriquecer ou pelo menos viver independente com o seu pedaço de terra.
Percorreu, a pé, as veredas, os carreiros e os pinhais que levavam à Serra desventrada pela exploração do volfrâmio.Tinham sido belas ,no século XIX, as suas encostas, com frondosos pinheiros, urzes e medronheiros. Agora abria sem reservas o seu ventre fecundo e doentio a todos os que acreditavam com uma certa ingenuidade que nascer pobre em Portugal não é impeditivo de estar a um passo do sucesso se o corpo não se recusar ao trabalho.Caminhara durante dias, semanas, atravessou campos salpicados de pedras negras que pareciam obra humana. Era o destino que o empurrava para uma viagem que seria a sua provação, a sua cruz grande como o peso da emergente alienação mental.
Rastejou nos sombrios e baixos túneis da mina . Ganhou algum dinheiro mas a febre levou a melhor sobre a sua capacidade de luta. Regressou a Alpedrinha doente, derrubado pela fraqueza do espírito e pelo peso crescente da ausência eterna da mãe.
Ninguém o quis, ou soube, ouvir e a febre transformou-se em silêncio eterno.Até morrer, abandonado pela família, jamais pronunciou uma palavra, nem quando Jaime tentou tranquilizar-se com o passado e foi visitar o irmão, conseguiu ouvir a sua voz.
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