quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A culpa

O soberbo pinheiro era o refúgio da solidão com travo amargo em que Ariana vivia, longe da família que a entregara aos senhores de África a quem ela tratava por avós. Ariana sentia um misto de tristeza e de desvelo ao olhar aqueles campos ondulados do oeste, que vibravam com cores suaves, cuja matiz variava sob o deslizar das nuvens macias e velozes que, inexoravelmente, se concentravam nos cumes da serra do Montejunto.




Os contornos delicados da serra chamavam Ariana nos dias ventosos do primeiro inverno, passado no "Casal". O vento era o seu companheiro e ela pensava assim não estar sozinha naquela odisseia em que o canto da sereia tinha a voz melosa  e insistente do Velho de Chapéu de abas largas ou da voz doce e aguda da Nila que, todas as manhãs lhe pedia para apertar as sandalitas.
Ariana não resistia a tanta delicadeza. Estava habituada aos modos bruscos do pai e à voz nervosa da mãe Licas. Aquela voz de gata com cio chamava a menina para junto dela. Feliz, Ariana aproximava-se, ela gostava de ajudar... mas depressa a inocente alegria dava lugar a uma revolta carregada de culpa.

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