No trono sentava-se a avó Nila, pernas semi-afastadas e, enquanto ariana tentava apertar as pequenas sandálias, o seu olhar desviava-se para as cortinas em renda que filtravam a luz da manhã , o sol entrava na vasta casa de banho, eram como fios de ouro que atravessavam os vidros martelados e refulgiam nos azulejos alvos, como diamantes pequeninos dançando na parede fria.
A voz doce da "avó" chamava-a à realidade, se não se concentrasse na sua tarefa, demoraria mais tempo e Ariana queria tanto fugir dali para fora!
Ariana olhava para os pés pequeninos e gordos e quase se punha de rastos para que os seus olhos sonolentos se desviassem do tufo negro e odorante que começava então lentamente a deixar escorrer os fluidos matinais.
A menina apressava-se, sentindo náuseas, a encontrar a presilha, os seus deditos retorciam-se até doerem e finalmente conseguia fugir a correr daquele dilúvio de luxúria que a avozinha , com pequenas risadas organizava todas as manhãs, sem maldade claro...
Como podia ela adivinhar que o odor ácido a urina incomodava a sua "netinha"?
- Marota! Não olhes tanto para cima!- dizia ela enquanto afastava discretamente as pernas luzidias e alvas.
Se fores marota- continuava ela- olha o "mitongo!"
O "mitongo" era a palavra mágica que filtrava na cabeça infantil
a memória de algo perverso. Foram necessária muitas viagens para que Ariana visse nestes momentos íntimos algo encapuçado com o véu da delicada leveza do faz de conta.
Estes momentos fugazes e absurdos não tinham registo no quotidiano de Ariana, por isso ela depressa os esquecia e entregava-se às brincadeiras da sua idade... até à manhã seguinte
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