quinta-feira, 9 de setembro de 2010

No regresso procuramos quem eramos no olhar do outro

Nas férias de Verão Licas  retorna à casa materna mas isso para Adelaide era pouco. Os elos estavam para sempre quebrados, ela preferia manter uma certa distância, para sofrer menos na dura realidade da partida. Durante as semanas da estadia da sua menina, a rotina era quebrada e isso incomodava-a um pouco.Sempre fora dona e senhora da sua casa, do seu espaço e do seu tempo.Sempre fora ela que tomara as grandes e as pequenas decisões.A consulta prévia a Alberto, o seu companheiro de sempre, era uma mera formalidade. Confrontado com a necessidade de empreender algo, Alberto, o marido de Adelaide e padrasto de Licas, tinha por hábito responder com um pequeno riso que era quase um soluço ou então ria com um riso fresco e sonoro como se fosse uma criança.O seu riso afastava qualquer vontade de confronto e resignada Adelaide nem insistia . Em vão esperou durante anos por respostas que confirmassem que as suas decisões tinham sido as mais acertadas. Nessa matéria a vida de Adelaide foi um deserto que ela teve que percorrer com o fardo das responsabilidades às costas.O companheiro seria sempre uma ténue sombra que nos momentos decisivos sorria dizendo:" Tudo o que fizeres eu aceito e apoio."
Adelaide construiu o seu pequeno universo como uma rainha sem coroa. Partilhava o seu espaço com dificuldade se a sua rotina e autoridade fossem postos em causa. Ela ansiava que os dias quentes de Agosto  lhe trouxessem Licas. Com beijos quentes entregava-se aos abraços efusivos da família que orgulhoso Jaime dizia ter trazido sã e salva após uma viagem de dias, vivida como uma peregrinação. Uma longa provação que podia durar dois ou três dias .O céu de Portugal podia não ser tão estrelado ou tão azul como o do país vizinho mas uma vez passada a fronteira de Vilar Formoso uma espécie de embriaguez apoderava-se de Jaime e da família. Era a saudade que se arrumava num canto da memória e era substituída pela alegria esfuziante de pisar o chão onde pela primeira vez abrimos os olhos e começamos a construir a nossa história individual.

2 comentários:

  1. Tudo tão familiar e tudo tão estranho.
    Os cheiros, as sombras, as gentes que se fazem luz e desfilam pelas memórias que se parecem nossas, mesmo alheias.

    A vida como um sonho.

    Mergulhar no passado como numa lembrança líquida que se turva no aflorar das lágrimas que estrangulam o tempo. O ser dilui-se na leitura...

    Bem hajas, amiga! Por cada palavra, por cada frase. Por cada lampejo de alma.

    Bem hajas!

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  2. Nada há que substitua o nosso país.Mesmo em viagaens de lazer, chega a um ponto que a saudade se faz presente.

    Bom fim de semana.

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