Ermelinda era uma mãe frágil e debilitada pela bronquite crónica, ficara na vila numa casita de pedra nua, com loja para as bestas e uma única divisória. O acesso fazia-se por uma escada de granito, toscamente construída. Situava-se no largo José de Sousa, a escassa distância da Igreja Matriz onde o cinzel transformou o granito e lançou-o bem alto elevando muralhas para o divino. Aí nascera Jaime. Na rua do Calvário o menino iniciou uma penosa caminhada pela vida.
Jaime pouco tempo brincou nestas paragens, onde a vila e a montanha namoravam constantemente. Bastava percorrer duas vias, duas pequenas ruas e já se vislumbrava a Via Romana, uma Via milenar que com humildade e perseverança atravessava os montes até ao Fundão e começava ali… às portas do palácio do Picadeiro. Jaime recordou o Chafariz Real, onde as mulheres branqueavam a roupa da família.
A primeira provação de Jaime não lhe ficou na memória consciente. A sua separação do seio materno privou-o do carinhoso roçar da pele feminina. As mãos da sua mãe não o embalariam durante os três meses da desmama. Entregue aos cuidados da sua irmã Lurdes, o menino com apenas dois anos conheceu o Ameal onde passaria a primeira infância. Lurdes, mais velha onze anos, cuidaria do pai, do petiz e de dois irmãos, já homens feitos. Os restantes irmãos ou eram casados ou andavam a servir. Esta diferença de idade não impedia no entanto que a jovem não passasse de uma criança.
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