terça-feira, 20 de julho de 2010

Prisioneiro da serra



Se o tempo piorava e o céu desabava sobre a terra, não havia tempo para regressar a salvo ao Ameal. Um sobreiro  ou uma cabana de giesta serviriam de abrigo ao pastor. A cadela, companheira fiel e o gado ali ficavam, os dorsos frementes oferecidos ao vento, ao frio e por vezes à neve. A vida pairava expectante, os segundos eram o ritmo do coração apertado pelo pavor, os minutos eram o cambalear das cabeças molhadas dos animais...as horas eram o drama das agruras e dificuldades da vida  visitados e revisitados pela mente meio adormecida. Estes retiros forçados da vida cultivavam caracteres sofridos e melancólicos, propensos a um lirismo exacerbado e apaixonado.A flauta de cana fazia-se ouvir pela serra como um grito ou um suspiro de dor.








1 comentário:

  1. Salve!

    O romantismo bucólico por vezes é enganador, senão mesmo traiçoeiro, ao esconder muita dor e sofrimento.
    Quem, olha de fora apenas vê aquilo que quer ver, o lirismo melancólico de olhos cansados da asfixia da vida urbana.
    A vida na natureza é uma luta contínua.

    Salutas!

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