sexta-feira, 16 de julho de 2010

As árvores que nos fizeram homens


A serra da Gardunha, filha airosa da Serra da Estrela, berço de frondosos castanheiros e perfumados pomares; de abundantes riachos saltitando pelas fragas e de casas de granito com alpendres suspensos sobre lojas que abrigavam os animais que acabavam por ser o aquecimento da família mais barato e biológico. A figueira sussurrou-lhe : “Bem-vindo sejas! Estás de novo em tua casa.” Jaime sorriu e afagou o tronco áspero. Já não era o homem, o chefe de família… era de novo o petiz que galgava inconsciente ribeiras e muretes ao ritmo das estações.







Os olhos fechados, os bracitos magros à volta de um tronco, o pequeno Jaime fingia brincar às escondidas. Era o mais novo de uma família de nove irmãos! Não tinha ninguém da sua idade com quem pudesse seguir nas aventuras pelo mundo do brincar. Tivera um irmãozito , também ele chamado Jaime, mas morrera ainda de tenra idade. A morte na primeira infância era comum, por isso as famílias apressavam-se a baptizar os pequenos seres para assim enganarem o demo! O limbo não era a morada eterna apreciada por estes pais crentes e tementes a Deus. Jaime continuou a viajar em espírito e via-se agora com três anos. Era chegado o momento do desmame e seria levado para longe do doce néctar que a natureza sempre generosa lhe dava. Levaram-no para a quinta do Ameal onde Ermelinda não estaria à sua espera.

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