As cabras da família por vezes causavam desavenças com os vizinhos.Bastava vaguear o olhar pela serra e lá iam elas aos saltitos mordiscando os rebentos dos pinheiros da Dona Auzenda.Valia a pena arriscar e, de vez em quando, olhar a beleza sólida, real e imponente das encostas salpicadas de uma miríade de cores de Primavera ou simplesmente cobertas de lençóis flutuantes e húmidos do Outono.
O respeito pela propriedade era um ponto de honra, para quem pouco ou nada tinha de seu. A fertilidade da terra era arrendada, as quintas e as casas também o eram, em troca de pouco ou de muito.Por muito pouco recorriam à violência, por pouco chegavam a matar! Jaime bem se lembrava da história mil vezes contada e outras tantas fantasiada que enlutou uma família de Vale Prazeres...tudo por causa de uma galinha.
A terra era uma amante que pedia sem cessar amor,esforço e justiça. Só o gado podia por ela vaguear mas mediante regras impostas pelos homens. Nela podiam despejar as suas entranhas e assim enriqueciam-na em troca de alimento.Nos "cancelos" praticava-se uma espécie de troca: o pasto pelo estrume.Tudo era economia, tudo tinha de ser gerido com zelo e respeito. Nada era desperdiçado. As leis da natureza eram imutáveis, rígidas para que nada se perdesse.
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