sexta-feira, 16 de julho de 2010
O regaço materno é a fonte primordial
Abriu os olhos e olhou de novo o caminho que tantas vezes tinha percorrido, rumo ao Ameal.Os dois quilómetros que percorrera, no balouçar da carroça, moeram-lhe os ossos já doridos da viagem entre Lisboa e Alpedrinha. Finalmente chegou ao destino: a casa que o acolhera em menino e de onde foi friamente arrancado do regaço que num dia de tristeza deixou de ser a sua fonte de vida .Era uma casa pobre da Beira rural. Uma casa sem idade como se fizesse parte da floresta que a rodeava. A fachada era humilde e térrea, virada para o pinhal. As traseiras dominavam terrenos cultivados. Aproveitando o terreno em declive, as lojas ocupavam a parte inferior da habitação e a elas se tinha acesso pelas traseiras. Jaime não conseguiu ver a coelheira que a sua memória ainda recordava, no seu lugar um anexo de construção recente, aguardava os recém-chegados. Procurou apreensivo vestígios que lhe devolvessem a paz. Precisava encontrar um testemunho fiável da sua estadia naquele casebre. Onde estava a velha e imponente amoreira? Desaparecera! A cadela Líria morrera há uma eternidade…o seu olhar deteve-se embevecido na figueira “lâmpara”. Erguia-se recurvada, retorcida pelo afago brusco dos gélidos ventos de Inverno que arrastavam até ao Ameal o paralisante bafo da serra, onde se aninhava a vila de Alpedrinha.
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