terça-feira, 20 de julho de 2010

A força do cálice fecundo

A vida decorria sem sobressaltos para esta família da Beira Baixa, movida pela vontade,  de sobreviver às agruras da miséria rural. Miséria social e cultural que deixava nítidas feridas no coração e no modo como ao longo da vida expressariam os sentimentos. Corações solitários mas transbordantes de amor nunca revelado. Violências domésticas que a frágil Ermelinda  tentava em vão controlar. Quantas vezes a sua carne provava a mão progenitora que, impiedosa, castigava os filhos. Como boa portuguesa aceitava tolerante estas marcas de despotismo, de temperamental desejo de comando. O mundo de Ermelinda tinha como limite a sua descendência e a sua débil saúde.Atormentada pelas sucessivas crises de bronquite e pelos partos numerosos, esta mulher era a grandeza decadente personificada. Grandeza na sua passiva aceitação do sofrimento, quando qual leoa se lançava entre os filhos e o braço castigador.Decadência na forma fatalista de aceitar esse sofrimento, sem um única vez sentir o desejo de gritar o seu protesto, sem sonhos de mudança, presa no seu nicho de mulher mãe, mulher trabalhadora, mulher crente e temente a Deus...

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